Os atuais estudos sobre o conceito de barroco seguem por caminhos em direção a reconhecer uma operação de passagem do barroco europeu ao barroco americano, propondo novos paradigmas teóricos, para além da estrutura histórica, para além de análises de obras puramente europeias. Há, na contemporaneidade, a busca pela capacidade da estética barroca de ser vista como moderna, considerando suas mesmas características que romperiam com o contexto seiscentista, embora haja eclodido naquele tempo específico. O cerne da questão é pensar o barroco não só como categoria artística integrante de uma estrutura histórica, mas também como estética de características modernas impostas sobre as terras americanas sobreviventes até a contemporaneidade, guardadas suas especificidades atuais.

       Lezama Lima (1988), em A Expressão americana, expõe um estudo acerca do Barroco desenvolvido com indicação crítica da visão limitadora do termo no século XIX, além de crítica empreendida acerca da dispersão teórica e da saturação interpretativa na década de 50 do século passado. O autor propõe um conceito fundado mais especificamente na arte barroca americana por meio de imagens e de personagens vistos a partir de novos epítetos. O crítico indica a origem do barroco americano, “a maneira do pleno como composição tem sua raiz nesse barroco de Bernini” (LEZAMA LIMA, 1988, p. 100-106), e comenta o clímax dessa expressão: “a arte do Aleijadinho representa a culminação do barroco americano, a união em uma forma grandiosa do hispânico com as culturas africanas” (LEZAMA LIMA, 1989, p. 100-106). Irlemar Chiampi (1998), em Barroco e Modernidade, apresenta um exemplo grandioso de investigação da americanidade barroca e de sua arqueologia. A pesquisadora percebe o barroco como emblema de identidade cultural americana e como uma encruzilhada estético-cultural originadora da modernidade.

          A proposta do II Simpósio de Estudos Barrocos e Neobarrocos: AMERICANIDADE TRANSVERSAL é abordar vários estudos modernos de contribuição para reavaliar a estética barroca como não fadada ao congelamento histórico de um estilo de época, mostrando a transversalidade do viés  estético produzido na América. Essa abordagem contribui  para mostrar que a reutilização da arte seiscentista não retratou uma ruptura com da tradição gongorina, pois  ocorre com a modernidade e a adaptação na América justamente uma expansão “das potencialidades experimentais do barroco” (CHIAMPI, 1998, p. 13). A tradição literária advinda da Europa, a qual perdurou em todas as terras colonizadas, exagera na experimentação ao modo barroquista americano-transversal. O exagero do barroco na América terá sua explanação em nosso evento em variadas formas, do acadêmico ao artístico: conferências, sessões de GT'S, minicursos, exposição de pintura, sarau, cinema.

Bom evento a todas e a todos!

Leila Tabosa

Coordenadora do evento